quinta-feira, 26 de junho de 2014

Jesus

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
(Redirecionado de Jesus Cristo)
Jesus
ישוע, Iesous
O mais antigo painel iconográfico do Cristo Pantocrator.
Século VI. Mosteiro de Santa Catarina, Egito.
Nome completoJesus de Nazaré
Nascimento7-2 a.C.nota 1
Judeia, Império Romano5
Morte30-33 d.C.nota 2
Judeia, Império Romano
ProgenitoresMãe: Maria
Pai: Josénota 3
OcupaçãoCarpinteiro, profeta itinerante erabino
Causa da morteCrucificaçãonota 4
Jesus (em hebraico: ישוע/ יֵשׁוּעַ; transl.: Yeshua; em grego: Ἰησοῦς, Iesous), também chamado Jesus de Nazaré, que nasceu entre 7–2 a.C e morreu por volta de 30–33 d.C., é a figura central do cristianismo e aquele que os ensinamentos de maior parte dasdenominações cristãs, além dos judeus messiânicos, consideram ser o Filho de Deus. O cristianismo e o judaísmo messiânico consideram Jesus como o Messias aguardado no Antigo Testamento e referem-se a ele como Jesus Cristo (Yeshua Ha'Maschiach), um nome também usado fora do contexto cristão.
Praticamente todos os académicos contemporâneos concordam que Jesus existiu realmente,nota 5 embora não haja consenso sobre a confiabilidade histórica dos evangelhos e de quão perto o Jesus bíblico está do Jesus histórico.17 A maior parte dos académicos concorda que Jesus foi um pregador judeu da Galileia, foi batizado por João Batista e crucificado por ordem dogovernador romano Pôncio Pilatos.18 Os académicos construíram vários perfis do Jesus histórico, que geralmente o retratam em um ou mais dos seguintes papéis: o líder de um movimento apocalíptico, o Messias, um curandeiro carismático, um sábio e filósofo, ou um reformista igualitário.19 A investigação tem vindo a comparar os testemunhos do Novo Testamento com os registos históricos fora do contexto cristão de modo a determinar a cronologia da vida de Jesus.
Algumas linhas cristãs acreditam que Jesus foi concebido pelo Espírito Santo, nasceu de uma virgem, praticou milagres, fundou aIgreja, morreu crucificado como forma de expiação, ressuscitou dos mortos e ascendeu ao Paraíso, do qual regressará.20 A grande maioria dos cristãos venera Jesus como a encarnação de Deus, o Filho, a segunda das três pessoas na Santíssima Trindade. Alguns grupos cristãos rejeitam a Trindade, no todo ou em parte.
No contexto islâmico, Jesus (transliterado como Isa) é considerado um dos mais importantes profetas de Deus e o Messias.21 Para os muçulmanos, Jesus foi aquele que trouxe as escrituras e é filho de uma virgem, mas não é divino, nem foi vítima de crucificação. O judaísmo rejeita a crença de que Jesus seja o Messias aguardado, argumentando que não corresponde às profecias messiânicas do Tanach.

Etimologia

Um judeu contemporâneo de Jesus possuía um único nome, por vezes complementado com o nome do pai ou cidade de origem.22 Ao longo do Novo Testamento, Jesus é denominado "Jesus de Nazaré" (Mateus 26:71), "Filho de José" (Lucas 4:22) ou "Jesus, filho de José de Nazaré" (João 1:45). No entanto, em Marcos 6:3, em vez de ser chamado "filho de José", é referido como "o filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão". O nome "Jesus", comum em várias línguas modernas, deriva do latim "Iesus", uma transliteração do grego Ἰησοῦς (Iesous).23 A forma grega é uma tradução do aramaico ישוע‎ (Yeshua), o qual deriva do hebraico יהושע‎ (Yehoshua).24 25Aparentemente, o nome Yeshua foi usado na Judeia na época do nascimento de Jesus.26 Os textos do historiador Flávio Josefo, escritos durante o século I em grego helenístico, a mesma língua do Novo Testamento,27 referem pelo menos vinte pessoas diferentes com o nome Jesus (i.e. Ἰησοῦς).28 A etimologia do nome de Jesus no contexto do Novo Testamento é geralmente indicada como "Javé é a salvação".29
Desde os primórdios do cristianismo os cristãos se referem a Jesus como "Jesus Cristo".30 A palavra Cristo tem origem no grego Χριστός (Christos),23 31 o qual é uma tradução do hebraico מָשִׁיחַ (Masiah), e que significa "o ungido" e é geralmente traduzido como Messias.32 33 Jesus é denominado pelos cristãos de “Cristo”, uma vez que acreditam que ele é o Messias esperado, profetizado na Bíblia Hebraica. Embora originalmente se tratasse de um título, ao longo dos séculos o termo “Cristo” foi sendo associado a um apelido – parte de “Jesus Cristo”.34 35 O termo “cristão”, que significa “aquele que professa a religião de Cristo”, tem sido usado desde o século I.36 37

Cronologia

Judeia, Galileia e regiões próximas no tempo de Jesus
A maior parte dos académicos concorda que Jesus foi um judeu da Galileia, nascido por volta do início do primeiro século, e que morreu entre os anos 30 e 36 d.C. na Judeia.38 39 O consenso académico é que Jesus foi contemporâneo de João Batista e foi crucificado por ordem do governador romano Pôncio Pilatos, que governou entre 26 e 36 d.C.40 Grande parte dos académicos sustentam que Jesus viveu na Galileia e na Judeia e que não pregou ou estudou em qualquer outro local.41
Os evangelhos oferecem diversas pistas no que diz respeito ao ano de nascimento de Jesus. Mateus 2:1 associa o nascimento de Jesus ao reinado de Herodes, o Grande, que morreu cerca de 4 a.C., enquanto que Lucas 1:5 menciona que Herodes reinava pouco antes do nascimento de Jesus,42 43 embora este evangelho também associe o nascimento com o censo de Quirino, que decorreu dez anos mais tarde.44 45 Lucas 3:23 declara que Jesus tinha cerca de trinta anos de idade no início do seu ministério; ministério esse que, de acordo com Atos 10:37, foi precedido pelo ministério de João, que Lucas 3:1 afirma ter começado no 15º ano do reinado de Tibério (28 ou29 d.C.).46 47 Ao comparar os relatos do evangelho com dados históricos e usando vários outros métodos, a maior parte dos académicos determina a data de nascimento de Jesus entre 6 e 4 a.C.47 48
Os anos do ministério de Jesus foram estimados usando diversas abordagens diferentes.49 50 Uma delas aplica as referências em Lucas 3:1, Atos 10:37 e as datas do reinado de Tibério, que são conhecidas com precisão, para determinar a data de início em 28-29 d.C.51Outra abordagem usa a declaração em João 2:13-20, que afirma que no início do ministério de Jesus o Templo de Jerusalém se encontrava no seu 46º ano de construção; sabendo que a reconstrução do templo foi iniciada por Herodes no 18º ano do seu reino, estima-se que a data seja 27-29 d.C..52 53 Outro método usa a data da morte de João Batista e o casamento de Herodes Antipas comHerodíade, com base no testemunho de Josefo, relacionando-os com Mateus 14:4 e Marcos 6:18.54 55 Dado que a maior parte dos investigadores data o casamento em 28-35 d.C., isto determina a data do ministério entre 28 e 29 d.C.56
Têm sido usadas várias abordagens diferentes para estimar o ano da crucificação de Jesus. A maior parte dos académicos concorda que ele morreu entre os anos 30 e33 d.C.6 57 Os evangelhos declaram que o evento ocorreu durante o governo de Pilatos, que governou a Judeia entre 26 e 36 d.C.58 59 60 A data para a conversão de Paulo(estimada entre 33 e 36 d.C.) é o limite superior para a data de crucificação. As datas da conversão de Paulo e do ministério podem ser determinadas através da análise das epístolas de Paulo e do Livro dos Atos.61 62 Desde Isaac Newton que os astrónomos tentam estimar a data precisa da crucificação através da análise do movimento lunar e do cálculo das datas históricas do Pessach, um festival com base no calendário hebraico lunissolar. As datas mais aceites a partir deste método são 7 de abril de 30 d.C. e 3 de abril de 33 d.C. (ambas julianas).63

Vida e ensinamentos no Novo Testamento

Os quatro evangelhos canónicos (Mateus, Marcos, Lucas e João) são as principais fontes para a biografia de Jesus. No entanto, outras partes do Novo Testamento, como asepístolas paulinas, escritas provavelmente décadas antes dos evangelhos, incluem também referências a episódios chave da sua vida, como a Última Ceia em Coríntios 11:23-2664 65 66 Os Atos dos Apóstolos (Atos 10:37-38 e Atos 19:4) referem-se ao início do ministério de Jesus e ao do seu antecessor João Batista.67 68 Os Atos 1:1-11 revelam mais acerca da Ascensão de Jesus do que os evangelhos canónicos.69 Alguns dos primeiros grupos cristãos e gnósticos tinham descrições distintas da vida e ensinamentos de Jesus que não estão incluídas no Novo Testamento. Entre elas estão o Evangelho de Tomé, o Evangelho de Pedro e o Apócrifo de Tiago, entre várias outras narrativas apócrifas. A maior parte dos académicos considera-as fontes muito posteriores e muito menos confiáveis do que os evangelhos canónicos.70 71

Descrição nos evangelhos canónicos

Manuscrito grego do Evangelho de Lucas, século III
Os evangelhos canónicos são constituídos por quatro narrativas, cada uma escrita por um autor diferente. O primeiro a ser escrito foi o Evangelho segundo Marcos (entre 60 e 75 d.C.), seguido pelo de Mateus (65-85 d.C.), o de Lucas (65-95 d.C.) e o de João (75-100 d.C.).72 Eles muitas vezes diferem em termos de conteúdo e cronologia dos eventos.73
Três deles, Mateus, Marcos e Lucas, são conhecidos como evangelhos sinópticos, a partir do grego σύν (syn "junto") e ὄψις (opsis"óptica").74 75 76 São semelhantes em conteúdo, composição da narrativa, linguagem e estrutura dos parágrafos.74 75 Os académicos geralmente concordam que é impossível encontrar qualquer relação direta entre os evangelhos sinópticos e o Evangelho segundo João.77 Enquanto que a sequência de alguns eventos da vida de Jesus, como o batismo, transfiguração, crucificação e interação com os apóstolos, são partilhados por todos os evangelhos sinópticos, alguns eventos, como a transfiguração, não aparecem no Evangelho de João, que também difere noutros temas, como a Limpeza do Templo.78
A maior parte dos académicos concorda que os autores de Mateus e Lucas usaram Marcos como fonte ao escrever os seus evangelhos. Mateus e Lucas partilham também outro conteúdo que não se encontra em Marcos. Para explicar esta situação, muitos académicos acreditam que para além de Marcos, os dois autores recorreram a outra fonte – denominada Fonte Q.79
De acordo com o ponto de vista da maioria, os evangelhos sinópticos são as fontes primárias de informação histórica sobre Jesus (Sanders 1993, p. 73). No entanto, nem tudo o que está nos evangelhos é considerado verídico em termos históricos (Sanders 1993, p. 3). Entre os elementos cuja autenticidade histórica é posta em causa estão anatividade, a ressurreição, a ascensão, alguns dos milagres e o Julgamento no Sinédrio, entre outros.80 81 82 Os pontos de vista nos evangelhos variam entre descriçõesinerrantes da vida de Jesus83 a descrições que não dão qualquer informação histórica da sua vida.84
No geral, os autores do Novo Testamento mostraram pouco interesse numa cronologia absoluta da vida de Jesus ou em sincronizar os episódios da sua vida com a história secular do seu tempo.85 Tal como evidenciado em João 21:25, os evangelhos não pretendem fornecer uma lista exaustiva dos eventos na vida de Jesus.86 As narrativas foram escritas fundamentalmente como documentos teológicos no contexto do cristianismo primitivo, sendo as cronologias considerações secundárias.87 Uma das principais manifestações de que os evangelhos são documentos teológicos e não crónicas históricas é o facto de dedicarem mais de um terço do texto a apenas sete dias, nomeadamente à última semana de Jesus em Jerusalém, conhecida como Paixão.88 Embora os evangelhos não forneçam detalhes suficientes para satisfazer a exigência de historiadores contemporâneos no que diz respeito a datas precisas, é possível obter deles uma visão genérica da história de vida de Jesus.89 90 87
Os evangelhos incluem diversos discursos de Jesus em ocasiões específicas, como o Sermão da Montanha e o Discurso de adeus. Também incluem mais de trinta parábolas ao longo da narrativa, muitas vezes sobre temas relacionados com os sermões.91 Os milagres realizados por Jesus ocupam grande parte dos evangelhos. Em Marcos, 31% do texto é dedicado aos seus milagres.92 As descrições dos milagres são muitas vezes acompanhadas por registos dos seus ensinamentos.93 94

Genealogia e Natividade

As narrativas da genealogia e da natividade de Jesus no Novo Testamento só aparecem nos evangelhos de Lucas e Mateus, sendo estas as principais fontes de informação sobre o tema. Fora do Novo Testamento, existem documentos mais ou menos contemporâneos de Jesus e dos evangelhos, mas poucos são os que esclarecem detalhes biográficos da sua vida.95 Mateus começa o seu evangelho com a genealogia de Jesus (Mateus 1:1), antes de narrar o seu nascimento. Identifica a ascendência de Jesus até Abraão através deDavid. Lucas 3:22 discute a genealogia depois de descrever o batismo de Jesus, no qual uma voz celestial se dirige a Jesus e o identifica como o Filho de Deus. Mateus 3:23 determina a ascendência de Jesus desde "José, filho de Eli", até "Adão, filho de Deus".96
A natividade é um elemento proeminente no Evangelho de Lucas, correspondente a 10% do texto e três vezes mais longo do que o texto da Natividade de Mateus.97 A narração de Lucas dá ênfase a acontecimentos anteriores ao nascimento de Jesus e foca-se em Maria, enquanto que Mateus narra acontecimentos posteriores ao nascimento e se foca em José.98 99 100 Ambos os textos afirmam que Jesus é filho de José e da sua noiva Maria e que nasceu em Belém, e ambos apoiam a doutrina do nascimento virginal de Jesus, segundo a qual Jesus foi concebido de forma milagrosa pelo Espírito Santo no ventre de Maria enquanto ainda era virgem.101 102 103
Em Lucas 1:31, o arcanjo Gabriel diz a Maria que ela irá conceber e carregar uma criança chamada Jesus por obra do Espírito Santo.99 101 Estando noivo de Maria, José fica preocupado com a sua gravidez (Mateus 1:19-20), mas no primeiro dos seus três sonhos, um anjo assegura-lhe que não tenha medo de casar com Maria, uma vez que a criança foi concebida pelo Espírito Santo.104 Quando se aproxima o momento do parto, Maria e José viajam de Nazaré até à casa de José em Belém para se registarem no censo ordenado pelo imperador romano. É aí que Maria dá à luz Jesus. Uma vez que não encontraram vaga na estalagem, o recém-nascido é colocado numa manjedoura (Lucas 2:1-7). Um anjo anuncia o nascimento a alguns pastores, que se deslocam a Belém para ver Jesus e posteriormente divulgar a notícia (Lucas 2:8-20). Depois deapresentarem Jesus no Templo, a família regressa a Nazaré.99 101 Em Mateus 1:1-12, três reis magos do Oriente levam ofertas ao recém-nascido como o Rei dos Judeus. Herodes toma conhecimento do nascimento de Jesus e, pretendendo vê-lo morto, ordena a execução de todas as crianças do sexo masculino de Belém. No entanto, um anjo avisa José no seu segundo sonho, o que leva a família a fugir para o Egito, de onde mais tarde regressaria para se fixar em Nazaré.104 105 106

Infância

Os evangelhos de Lucas e Mateus situam a casa de infância de Jesus na cidade de Nazaré na Galileia. José, o marido de Maria, está presente na descrição dos episódios da infância de Jesus, embora posteriormente não lhe seja feita qualquer referência.107 Os livros do Novo Testamento de Mateus e Marcos e a epístola aos Gálatas mencionam os irmãos e irmãs de Jesus. No entanto, a palavra grega "adelfos" nestes versos pode também ser traduzida por "parente", em vez do mais comum "irmão".108 A contradição manifesta entre a existência de irmãos e a doutrina da virgindade perpétua de Maria levou a que alguns dos primeiros teólogos tivessem argumentado que se tratavam de filhos de José, fruto de um casamento anterior, ou que o texto se referia a primos, e não a irmãos. Estas interpretações encontram-se hoje em dia refutadas entre o meio académico contemporâneo.109 110
Originalmente escrito em grego helenístico, o Evangelho de Marcos refere em Marcos 6:3 que Jesus era um τέκτων (tekton), enquanto queMateus 13:55 refere que ele próprio era filho de um tekton.111 Embora tradicionalmente tekton seja traduzido por "carpinteiro", tekton é um termo bastante genérico, da mesma raiz que está na origem de "técnico" e "tecnologia", e que pode ser aplicado a construtores de objetos nos mais diversos materiais e até mesmo a construtores.112 113 Para além das narrações do Novo Testamento, a associação de Jesus à carpintaria é constante em tradições dos séculos I e II. Justino (m. c. 165 d.C.) escreveu que Jesus fabricava arados e gadanhos.114 Os evangelhos indicam que Jesus era capaz de ler e debater textos, embora isto não signifique que tenha recebido qualquer formação.115

Batismo e Tentação

Representação da cena batismal, na qual o céu se abre e o Espírito Santo desce na forma de uma pomba.Francesco Trevisani, 1723116
Todas as narrativas do batismo de Jesus nos evangelhos são antecedidas por informações sobre o ministério de João Batista.117 118 119 Em todas, João é retratado a pregar a penitência e arrependimento para remissão dos pecados e a encorajar a oferta de esmolas aos pobres (Lucas 3:11) enquanto batiza os crentes no rio Jordão, nas proximidades de Pereia, por volta da mesma altura em que Jesus inicia o seu ministério. O Evangelho de João (João 1:28) refere inicialmente "Betânia" e posteriormente (João 3:23) na margem oposta.120 121
Nos evangelhos, refere-se que João tinha vindo a anunciar (Lucas 3:16) a chegada de alguém mais poderoso que ele,122 123 o que também é referido por Paulo de Tarso (Atos 19:4).67 Em Mateus 3:14, durante o encontro com Jesus, João afirma "Eu preciso de ser batizado por ti", embora seja persuadido por Jesus a ser ele a batizá-lo.124 Depois de o fazer e de Jesus emergir das águas, o céu abre-se e ouve-se uma voz celestial: "Este é o meu Filho amado, de quem me agrado" (Mateus 3:17). O Espírito Santo desce então até Jesus na forma de uma pomba.122123 125 Este é um de dois eventos descrito nos evangelhos nos quais uma voz celestial chama a Jesus "Filho", sendo a outra a Transfiguração.126 127
Após o batismo, os evangelhos sinópticos descrevem a Tentação de Cristo, na qual Jesus resista a tentações do Diabo enquanto jejua por quarenta dias e noites no deserto da Judeia128 129 O batismo e tentação de Jesus servem de preparação para o seu ministério público.130 O Evangelho de João não menciona nenhum dos eventos, embora inclua um testemunho de João no qual ele vê o Espírito a descer sobre Jesus (João 1:32).123 131

Ministério público

Sermão da Montanha, por Carl Bloch, século XIX
Os evangelhos apresentam o ministério de João Batista enquanto precursor do ministério de Jesus. Iniciado com o seu batismo, Jesus dá início ao seu ministério nas áreas rurais da Judeia, perto do rio Jordão, com cerca de trinta anos de idade (Lucas 3:23). Jesus viaja, prega e realiza milagres, completando o ministério durante a Última Ceia com os seus discípulos em Jerusalém.132
No início do ministério, Jesus designa doze apóstolos. Em Mateus e Marcos, apesar de Jesus ser breve no pedido, descreve-se que os primeiros quatro apóstolos, que eram pescadores, imediatamente consentiram e abandonaram as suas redes e embarcações (Mateus 4:18-22, Marcos 1:16-20). Em João, os primeiros dois apóstolos de Jesus são descritos como tendo sido discípulos de João Batista. Ao ver Jesus, João denomina-o Cordeiro de Deus. Ao ouvir isto, os dois apóstolos seguem Jesus.133 134 Para além dos Doze Apóstolos, o início da passagem do Sermão da Planície identifica como discípulos um grupo muito maior de pessoas (Lucas 6:17). Ainda em Lucas 10:1-16, Jesus envia setenta ou setenta e dois discípulos em pares para preparar cidades para a sua visita. São-lhes dadas instruções para aceitar hospitalidade, curar os doentes e espalhar a palavra de que se aproxima o Reino de Deus.135
Os académicos dividem o ministério de Jesus em diferentes períodos. O ministério da Galileia começa quando Jesus regressa à Galileia vindo do deserto da Judeia, depois de rejeitar a tentação de Satanás. Jesus prega na Galileia, e em Mateus 4:18-20 encontra-se com os seus primeiros discípulos, que o passam a acompanhar.136 137 Este período inclui o Sermão da Montanha, um dos principais discursos de Jesus,138 139 a calma da tempestade, a multiplicação dos pães e peixes, a caminhada sobre as águas e diversos milagres eparábolas.140 Termina com a Confissão de Pedro e a Transfiguração.141 142
À medida que Jesus viaja em direção e Jerusalém, durante o ministério de Pereia, regressa ao local onde foi batizado, a cerca de um terço do caminho do mar da Galileia, ao longo do Jordão (João 10:40-42).143 144 O último ministério em Jerusalém tem início com a sua entrada triunfal na cidade durante o Domingo de Ramos.145 Nos evangelhos sinópticos, durante essa semana afasta os cambistas do Templo e Judas negoceia a sua traição. Este período culmina na Última Ceia e no Discurso de despedida.146 147 148

Ensinamentos, sermões e milagres

Os ensinamentos de Jesus são muitas vezes analisados em termos de palavras e obras.93 149 As palavras incluem uma série de sermões, assim como parábolas que aparecem ao longo de toda a narrativa dos evangelhos sinópticos (o Evangelho de João não inclui parábolas). As obras contemplam os milagres e outras ações realizadas durante o ministério de Jesus.93 Embora os evangelhos canónicos sejam a principal fonte dos ensinamentos de Jesus, as epístolas paulinas oferecem alguns dos primeiros registos escritos.150
O Evangelho de João apresenta os ensinamentos de Jesus não apenas enquanto sermões, mas também como revelação divina. João Batista, por exemplo, afirma em João 3:34: "Porque aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus; pois não lhe dá Deus o Espírito por medida." Em João 7:16 Jesus afirma: "A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou", o que confirma em João 14:10: "Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem faz as obras."151
O Reino de Deus é um dos elementos chave dos ensinamentos de Jesus no Novo Testamento.152 Jesus promete a inclusão no reino de todos aqueles que aceitarem a sua mensagem. Chama as pessoas a renegar os seus pecados e a dedicarem-se completamente a Deus.22 Jesus pede aos seus seguidores que não descartem a Lei, embora haja quem considere que ele próprio a tenha infringido, por exemplo na questão do sabath22 (vejaCríticas aos fariseus). Por isso, quando questionado sobre qual seria o principal mandamento, Jesus responde: «Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento.» (Mateus 22:37-38); continuando: «E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos depende toda a lei e os profetas.» (Mateus 22:39-40). Entre os diversos ensinamentos sobre ética de Jesus estão amar os inimigos, reprimir o ódio e a luxúria, e oferecer a outra face (Mateus 5:21-44).153
As cerca de trinta parábolas dos evangelhos correspondem a cerca de um terço dos ensinamentos escritos de Jesus.154 155 As parábolas na narrativa aparecem com sermões mais longos e em locais diferentes.156 Muitas vezes apresentam elementos simbólicos e fazem a ponte entre os universos físico e espiritual.157 158 Entre os temas mais comuns das parábolas estão a bondade e generosidade de Deus e os riscos da transgressão.159 Algumas das parábolas, como a do Filho Pródigo (Lucas 15:11), são relativamente simples, enquanto outras, como a Parábola da Semente (Marcos 4:26-29), são de difícil compreensão.160
Nos textos dos evangelhos, Jesus dedica grande parte do seu ministério à realização de milagres, especialmente curas.161 O conjunto dos quatro textos regista cerca de 35 ou 36 milagres.162 Os milagres podem ser classificados em duas categorias principais: milagres de cura e milagres de natureza.163 Os milagres de curas englobam curas para doenças físicas, exorcismos e ressurreições dos mortos.164 Os milagres de natureza demonstram o domínio de Jesus sobre a natureza, entre os quais a transformação de água em vinho, o caminhar sobre as águas e a acalmia de uma tempestade. Jesus afirma que os seus milagres têm origem divina. Quando os seus oponentes o acusam de praticar exorcismos com o poder de Satanás, príncipe dos demónios, Jesus responde que os pratica pelo "Espírito de Deus" (Mateus 12:28) ou "Dedo de Deus" (Lucas 11:20)22 165
Em João, os milagres de Jesus são descritos como sinais, realizados com o intuito de demonstrar a sua missão e divindade.166 167 No entanto, nos sinópticos, quando lhe é pedido que dê alguns sinais miraculosos para demonstrar a sua autoridade, Jesus recusa.166 Ainda nos evangelhos sinópticos, é frequente a multidão reagir com deslumbramento e pressioná-lo para curar os doentes. Pelo contrário, o Evangelho de João indica que Jesus nunca fora pressionado pela multidão, e que esta muitas vezes respondia aos milagres com confiança e fé.168 Uma característica comum em todos os milagres de Jesus no texto dos evangelhos é que eram feitos de livre vontade e nunca por pedido ou a troco de qualquer forma de pagamento.169 Os episódios que contemplam descrições dos milagres de Jesus muitas vezes também incluem ensinamentos, enquanto os próprios milagres envolvem determinado elemento de ensino.93 170Muitos dos milagres ensinam a importância da fé. Na cura dos leprosos e na ressurreição da filha de Jairo, por exemplo, é dito aos beneficiários que a sua cura se deveu à sua fé.171 172

Proclamação de Cristo e Transfiguração

A cerca de metade do texto de cada um dos três Evangelhos, dois episódios relacionados entre si marcam um ponto de charneira na narrativa: a confissão de São Pedro e a Transfiguração de Jesus.142 173 Ambos têm lugar perto de Cesareia de Filipe, ligeiramente a norte do mar da Galileia, durante o início da viagem final para Jerusalém que termina na Paixão e Ressurreição de Jesus.174 Estes eventos marcam o início da revelação progressiva da identidade de Jesus aos seus discípulos e a sua previsão do seu próprio sofrimento e morte.175 127 142
A Confissão de Pedro começa com um diálogo entre Jesus e os seus discípulos em Mateus 16:13, Marcos 8:27 e Lucas 9:18. Em Mateus, Jesus pergunta aos discípulos: "E vós, quem dizeis que eu sou?". São Pedro responde "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo."174 176 177 Jesus responde: "Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus." Com esta bênção, Jesus afirma que os títulos que Pedro lhe atribui são revelados de forma divina, desta forma declarando inequivocamente ser tanto Cristo como o Filho de Deus.178 179
O texto da Transfiguração aparece em Mateus 17:1-9, Marcos 9:2 e Lucas 9:28-36.180 127 142 Jesus leva Pedro e dois apóstolos para uma montanha sem nome, onde se "transfigurou diante deles; e o seu rosto resplandeceu como o sol, e os seus vestidos se tornaram brancos como a luz."181 Uma nuvem brilhante aparece à sua volta, ouvindo-se uma voz celestial: "Este é o meu amado Filho, em quem me comprazo; escutai-o." (Mateus 17:1-9).180 A Transfiguração confirma que Jesus é o Filho de Deus (tal como no seu batismo), e o pedido "escutai-o" identifica-o como mensageiro e porta-voz de Deus.182

Última semana: traição, prisão, julgamento e morte

A descrição da última semana de vida de Jesus, frequentemente chamada semana de Páscoa, ocupa cerca de um terço da narrativa nos evangelhos canónicos,88 tendo início com a descrição da entrada triunfal em Jerusalém e terminando com a Crucificação.183 184 A última semana em Jerusalém é a conclusão da jornada que Jesus iniciou na Galileia e que atravessou Pereia e a Judeia.185 Pouco antes da entrada em Jerusalém, o Evangelho de João inclui a Ressurreição de Lázaro, a qual aumenta a tensão entre Jesus e as autoridades.186

Entrada final em Jerusalém

Nos quatro evangelhos canónicos, a entrada final de Jesus em Jerusalém tem lugar durante o início da última semana da sua vida, poucos dias antes da Última Ceia, marcando o início da narrativa da Paixão.187 188 Marcos e João identificam o dia da entrada em Jerusalém como sendo domingo, enquanto que Mateus indica que foi uma segunda; Lucas não indica o dia.189 190 191 Depois de deixar Betânia, Jesus monta num burro em direção a Jerusalém. Pelo caminho, a população estende à sua frente capas e pequenos ramos, ao mesmo tempo que canta parte dos Salmos 118:25-26192 193 194 A multidão em ânimo que saudava Jesus ao entrar em Jerusalém ajudou a aumentar a animosidade contra ele por parte das instituições locais.195
Nos três evangelhos sinópticos, à entrada em Jerusalém segue-se a Purificação do Templo, durante a qual Jesus expulsa os cambistasdo templo, acusando-os de o terem tornado um covil de ladrões através das suas atividades comerciais. Este é o único relato de todos os evangelhos em que Jesus recorre a força física.196 197 João 2:13 inclui uma narração semelhante decorrida muito mais cedo, pelo que existe debate entre académicos sobre se a passagem se refere ao mesmo episódio.198 197 Os sinópticos descrevem uma série de parábolas e sermões bastante conhecidos, como o Tostão da Viúva ou a Profecia da Segunda Vinda, que decorreram ao longo dessa semana.199 200
Os sinópticos registam episódios de conflitos entre Jesus e os anciãos judeus durante a Semana Santa, como o da autoridade de Jesus questionada e as críticas aos fariseus, nos quais Jesus os critica e acusa de hipocrisia.201 202 Judas Iscariotes, um dos doze apóstolos, aborda os anciãos e negoceia o pagamento de uma recompensa de trinta moedas de prata, pela qual se compromete a trair Jesus e a entregá-lo às autoridades.203 204

Última Ceia

Última Ceia, numa pintura de Juan de Juanes, século XVI
A Última Ceia é a última refeição que Jesus partilha com os seus doze apóstolos em Jerusalém antes da sua crucificação. A Última Ceia é mencionada nos quatro evangelhos canónicos, sendo também referida na Primeira Epístola aos Coríntios de Paulo (Coríntios 11:23).65205 206 Durante a refeição, Jesus prevê que um de seus apóstolos o trairá.207 Apesar de cada apóstolo ter afirmado que não o iria trair, Jesus reitera que o traidor seria um dos presentes. Mateus 26:23-25 e João 13:26-27 identificam especificamente Judas como traidor.65208 209
Nos sinópticos, Jesus reparte o pão pelos discípulos ao mesmo tempo que diz: "Isto é o meu corpo, que por vós é dado; fazei isto em memória de mim." Depois fê-los beber vinho por um cálice, dizendo: "Este cálix é o Novo Testamento no meu sangue, que é derramado por vós." (Lucas 22:19-20).65 210 O sacramento cristão da Eucaristia baseia-se neste evento.211 Embora o Evangelho de João não inclua uma descrição do ritual do pão e do vinho durante a Última Ceia, a maior parte dos académicos concorda que o Discurso do Pão da Vida (João 6:58-59) possui um carácter eucarístico e se relaciona com as narrativas dos evangelhos sinópticos e com os textos de Paulo sobre a Última Ceia.212
Em todos os evangelhos, Jesus prevê que Pedro negará que o conhece por três vezes antes de o galo cantar na manhã seguinte.213 214 Em Lucas e João, a profecia é feita durante a Ceia (Lucas 22:34, João 22:33). Em Mateus e Marcos, a profecia é feita após a Ceia, sendo também profetizado que Jesus será abandonado por todos os seus discípulos (Mateus 26:31-34, Marcos 14:27-30).215 O Evangelho de João oferece o único relato de Jesus a lavar os pés dos discípulos antes da refeição.105 João também inclui um longo sermão de Jesus, preparando os discípulos (agora sem Judas) para a sua partida. Os capítulos 14 a 17 do Evangelho de João são conhecidos por Discurso de despedida e são uma fonte significativa de conteúdos cristológicos.216 217

Agonia no jardim, traição e prisão

Beijo de Judas e da prisão de Jesus por Caravaggio, século XVII
Após a Última Ceia, Jesus dá um passeio para rezar, acompanhado pelos discípulos. Mateus e Marcos identificam o local como sendo ojardim do Getsémani, enquanto Lucas o identifica como sendo o Monte das Oliveiras.218 219 Judas aparece no jardim acompanhado por uma multidão, entre a qual se encontram clérigos judaicos, anciãos e pessoas armadas. Judas beija Jesus para o identificar à multidão, que então o prende.220 221 Tentando impedi-los, um dos discípulos de Jesus empunha uma espada para cortar a orelha de um homem.222 223 Lucas afirma que Jesus cura a ferida por milagre, enquanto João e Mateus afirmam que Jesus critica o ato violento, ao mesmo tempo que incentiva os discípulos a não resistir à prisão. Em Mateus 26:52 Jesus afirma: "Todos os que lançarem mão da espada à espada morrerão."224 225 Após a prisão de Jesus, os seus discípulos escondem-se e Pedro, quando interrogado, por três vezes nega conhecer Jesus.226 Após a terceira negação ouve-se o galo cantar e Pedro, ao se lembrar da profecia, chora em amargura.213

Julgamentos pelo Sinédrio, Herodes e Pilatos

Depois de ser preso, Jesus é levado para o Sinédrio, um corpo jurídico judaico.227 O texto dos evangelhos difere nos detalhes dos julgamentos.228 Em Mateus 26:57, Marcos 14:53 e Lucas 22:54, Jesus é levado para a casa do sacerdote Caifás, onde é espancado durante a noite. De manhã cedo, os clérigos e escribas levam Jesus ao tribunal.229230 231 João 18:12-14 afirma que Jesus é levado primeiro a Anás, sogro de Caifás, e depois ao sumo sacerdote.232 233 231
Durante os julgamentos, Jesus pouco falou, não articulou nenhuma defesa e respondeu de forma vaga às questões dos clérigos, o que levou um oficial a esbofeteá-lo. Em Mateus 26:62, a falta de resposta de Jesus leva a que Caifás lhe pergunte: "Não respondes coisa alguma ao que estes depõem contra ti?"234 235 231 Em Marcos 14:61 o sumo sacerdote pergunta a Jesus: "És Tu o Cristo, Filho do Deus Bendito?" Jesus responde "Eu o sou", e em seguida profetiza a vinda do Filho do Homem.22 Esta provocação faz com que Caifás se irrite e rasgue a própria túnica, acusando Jesus de blasfémia. Em Mateus e Lucas, a resposta de Jesus é mais ambígua.22 236 EmMateus 26:64 responde: "Tu o disseste", e em Lucas 22:70 diz: "Vós dizeis que eu sou".237 238
Ao levar Jesus para o tribunal de Pilatos, os anciãos pedem ao governador que julgue e condene Jesus, acusando-o de se proclamar o Rei dos Judeus.231 O uso do termo "rei" é essencial na discussão entre Jesus e Pilatos. Em João 18:36 Jesus declara: "O meu reino não é deste mundo", mas não nega inequivocamente ser o Rei dos Judeus.239 240 Em Lucas 23:7-15 Pilatos apercebe-se de que Jesus é um galileu, estando portanto na jurisdição de Herodes.241 242 Pilatos envia Jesus a Herodes para ser julgado,243 mas este mantém o silêncio face às perguntas de Herodes. Herodes e os seus soldados escarnecem Jesus, vestem-lhe um manto luxuoso para o fazer parecer um rei, e o levam de volta a Pilatos,244 que reúne os anciãos e anuncia que não considerava este homem culpado.245
De acordo com um costume da época, Pilatos permite que a multidão escolha um prisioneiro para ser libertado. Dá a escolher entre Jesus e um assassino chamado Barrabás. Persuadida pelos anciãos (Mateus 27:20), a multidão escolhe libertar Barrabás e crucificar Jesus.246 Pilatos escreve um sinal onde se lê: "Jesus Nazareno Rei dos Judeus",247abreviado para INRI nas representações do tema, para ser afixado na cruz de Jesus (João 19:9),248 tendo em seguida flagelado e enviado Jesus para ser crucificado. Os soldados colocaram-lhe na cabeça uma coroa de espinhos, ridicularizando-o como Rei dos Judeus, e espancando-o antes de o levarem para o Calvário249 para ser crucificado.250 231 251

Crucificação e deposição

A crucificação de Jesus é descrita nos quatro evangelhos canónicos. Depois dos julgamentos, Jesus é levado para o Calvário carregando a cruz. O caminho que se pensa ter sido usado é conhecido por Via Dolorosa. Os três evangelhos sinópticos indicam que Simão de Cirene foi obrigado pelos romanos a ajudar Jesus.252 253 Em Lucas 23:27-28 Jesus diz às mulheres no meio da multidão que o segue para não chorarem por ele, mas por si próprias e pelas suas crianças.254 No Calvário, oferecem a Jesus um preparado analgésico. De acordo com Mateus e Marcos, Jesus recusa.255 256
Os soldados crucificam Jesus e removem a sua roupa. Acima da sua cabeça na cruz estava a inscrição de Pilatos, "Jesus Nazareno Rei dos Judeus",257 ridicularizado por soldados e pessoas que passavam a pé. Jesus é crucificado entre dois ladrões condenados, um dos quais ataca Jesus, enquanto outro o defende.258 259 Os soldados romanos partem as pernas a ambos os ladrões, uma técnica usada para acelerar a morte na cruz, mas não chegam a partir as de Jesus, uma vez que este já se encontra morto. Em João 19:34, um soldado perfura Jesus com uma lança, de cuja ferida brota água.260 Em Mateus 27:51-54, quando Jesus morre, a cortina pesada do Templo volve-se e um terramoto abre os túmulos. Aterrorizado pelo evento, um centurião romano afirma que Jesus era de facto o Filho de Deus.261 262
No mesmo dia, José de Arimateia, com a permissão de Pilatos e a ajuda de Nicodemus, remove o corpo de Jesus da cruz, envolve-o em roupas lavadas e enterra-o num túmulo de pedra talhada.263 Em Mateus 27:62, no dia seguinte os judeus pedem a Pilatos para o túmulo ser selado com uma pedra e vigiado, de modo a assegurar que o corpo aí permaneça.264 265

Ressurreição e ascensão

O texto do Novo Testamento sobre a ressurreição de Jesus afirma que no primeiro dia da semana após a crucificação (geralmente interpretado como sendo o domingo), o seu túmulo foi descoberto vazio e que os seus discípulos o encontram ressuscitado dentre os mortos. Os discípulos chegaram ao túmulo de manhã cedo e encontram um ou dois seres (homens ou anjos) vestidos com túnicas brancas. Marcos 16:9 e João 20:15 indicam que Jesus aparece primeiro a Maria Madalena, e Lucas 24:1 afirma que ela é uma dosmirróforos (na tradição oriental) ou das Três Marias (na ocidental).266 267
Depois de descobrirem o túmulo vazio, Jesus realiza uma série de aparições aos discípulos.268 Entre elas está a Dúvida de Tomé e aaparição na estrada aos Emaús, em que Jesus encontra dois discípulos. A segunda pesca milagrosa é um milagre no mar da Galileia, após o qual Jesus encoraja Pedro a servir os seus seguidores.269 270
Antes de ascender ao Céu, Jesus instrui os discípulos a espalhar a palavra sobre os seus ensinamentos em todas as nações do mundo.Lucas 24:51 afirma que Jesus é então levado ao Céu. O relato da ascensão é elaborado em Atos 1:1-11 e mencionado em Timótio 3:16. Nos Atos, quarenta dias depois da Ressurreição, quando os discípulos olham para cima, encontram Jesus elevado, tendo sido levado por uma nuvem. Pedro 3:22 afirma que Jesus foi levado para o Céu e é agora a mão direita de Deus.271
Os Atos dos Apóstolos descrevem várias aparições de Jesus em visões após a sua Ascensão. Atos 7:55 descreve uma visão vivenciada por Santo Estêvão pouco antes de morrer.272 Na estrada para Damasco, o apóstolo Paulo é convertido ao cristianismo depois da visão de uma luz ofuscante e de ter ouvido uma voz dizer: "Eu sou Jesus, a quem tu persegues" (Atos 9:5).273 274 Em Atos 9:10-18, Jesus instrui Ananias de Damasco a curar Paulo. É o último diálogo com Jesus citado na Bíblia até ao Livro da Revelação,273 274 no qual um homem chamado João vivencia uma revelação de Jesus sobre os últimos dias.275

Perspetiva histórica

Até ao Iluminismo os evangelhos eram geralmente vistos como relatos históricos precisos, tendo a partir de então surgido interrogações sobre a sua fiabilidade por parte de académicos e a distinção clara entre o Jesus descrito nos evangelhos e o Jesus na História.276 A partir do século XVIII começam a ter lugar três vertentes de pesquisa académica sobre o Jesus histórico, cada uma com diferentes características e com base em diferentes critérios de investigação, os quais são muitas vezes elaborados durante a investigação que os aplica.277 278 Os académicos têm vindo a estudar e debater uma série de questões no que diz respeito ao Jesus histórico, como a sua existência, origem, fiabilidade histórica dos evangelhos e de outras fontes e um retrato preciso da figura histórica.

Existência

Edição de 1640 da obra deFlávio Josefo, historiador romano do século I.279
A teoria do mito de Cristo, que questiona a existência de Jesus e a veracidade dos relatos sobre ele, apareceu no século XVIII. Alguns dos apoiantes argumentam que Jesus é um mito inventado pelos primeiros cristãos,280 281 282 salientando a inexistência de quaisquer referências escritas a Jesus durante a sua vida e a relativa escassez de referências fora do contexto cristão durante o século I.283 Ao longo do século XX, académicos como George Albert Wells, Robert M. Price e Thomas Brodie têm apresentando vários argumentos que apoiam a teoria do mito de Cristo.284 285 286 No entanto, na atualidade praticamente todos os académicos que estudam a Antiguidade concordam que Jesus existiu e encaram determinados eventos, como o seu batismo e crucificação, como factos históricos.287 288 289 Robert E. Van Voorst e Michael Grantafirmam que os investigadores bíblicos e historiadores clássicos vêm as teorias da inexistência de Jesus como efetivamente refutadas.15 290
Em resposta ao argumento de que a inexistência de fontes contemporâneas significa que Jesus não existiu, Van Voorst afirmou que "tal como é do conhecimento de qualquer estudante de História", tais argumentos pelo silêncio são "particularmente perigosos"291 e geralmente fracassam, a não ser que um facto seja conhecido pelo autor e relevante o suficiente para ser mencionado no contexto de um documento.292 293 Bart D. Ehrman argumenta que embora Jesus tenha tido um enorme impacto em gerações futuras, o seu impacto na sociedade do seu tempo foi praticamente nulo. Seria portanto insensato esperar que existissem textos contemporâneos das suas ações.294
Ehrman refere que argumentos baseados na inexistência de evidências físicas ou arqueológicas de Jesus ou de quaisquer textos sobre ele são fracos, uma vez que também não existem tais evidências de "praticamente ninguém que tenha vivido durante o século I".24 Teresa Okure escreveu que a existência de figuras históricas é estabelecida pela análise de referências que lhes sejam posteriores, e não por relíquias ou restos contemporâneos.295 Diversos académicos referem o perigo de usar tais argumentos pela ignorância e geralmente consideram-nos inconclusivos ou falaciosos.296 297298 Douglas Walton afirma que argumentos pela ignorância são capazes de levar a conclusões apenas em casos onde se assume que toda a nossa base de conhecimento está completa.299
Entre as fontes fora do contexto cristão para determinar a existência histórica de Jesus está a obra dos historiadores do século I Josefo e Tácito.300 301 302 Louis H. Feldman, investigador de Josefo, afirmou que "poucos duvidaram da autenticidade" da referência de Josefo a Jesus no livro 20 de Antiguidades Judaicas, e tal facto é disputado apenas por um número muito reduzido de académicos.303 304 Tácito refere-se a Cristo e à sua execução por Pilatos no livro 15 da sua obra Anais. Os académicos geralmente consideram que a referência de Tácito à execução de Jesus seja simultaneamente autêntica e de valor histórico enquanto fonte independente romana.305

Historicidade dos eventos

Estátua de Tácito no exterior do parlamento de Viena
Codex Mediceus 68 II fol. 38, dos Anais de Tácito
O senador romano e historiador Tácito escreveu sobre a crucificação de Jesus em Anais, uma História do Império Romano durante o primeiro século.
A abordagem à reconstituição histórica da vida de Jesus varia entre as abordagens maximalistas do século XIX, nas quais os relatos dos evangelhos eram aceites como evidências fiáveis sempre que possível, e as abordagens minimalistas do início do século XX, nas quais era muito difícil qualquer coisa sobre Jesus ser aceite como histórica.306 Na década de 1950, à medida que toma lugar a segunda procura pelo Jesus histórico, a abordagem minimalista vai desaparecendo até que, no século XXI, minimalistas como Price são uma pequena minoria.307 308 Embora a crença na infalibilidade dos evangelhos não possa ser sustentada em termos históricos, muitos académicos desde a década de 1980 sustentam que, para além dos poucos factos que se considera serem historicamente válidos, há outros elementos da vida que Jesus que são "historicamente prováveis"309 310 311 A pesquisa académica sobre o Jesus histórico moderna foca-se então na identificação dos elementos mais prováveis.312 313
A maior parte dos académicos contemporâneos considera que o batismo e a crucificação de Jesus são inequivocamente factos históricos.314 James Dunn afirma que são factos quase universalmente aceites e que "se classificam tão alto na escalada dos factos históricos dos quais é impossível duvidar ou renegar" que são quase sempre o ponto de partida para o estudo do Jesus histórico.315 Os académicos citam o critério do embaraço, afirmando que os primeiros cristãos não teriam inventado a morte dolorosa do seu líder,316 ou um batismo que pudesse implicar que Jesus teria cometido pecados dos quais se quisesse arrepender.317 318 Os académicos usam uma série de critérios para julgar a autenticidade histórica dos eventos, como o critério de coerência, a confirmação por múltiplas fontes e o critério de descontinuidade.319 A historicidade de um evento depende também da fiabilidade da fonte. Marcos, o primeiro evangelho a ser escrito, é geralmente considerado o mais fiável em termos históricos.320 João, o último evangelho escrito, difere consideravelmente dos evangelhos sinópticos, sendo por isso considerado o menos fiável. Por exemplo, muitos académicos não consideram que a Ressurreição de Lázaro seja histórica devido, em parte, a ser apenas mencionada em João.321 Amy-Jill Levine refere que existe algum consenso nos traços gerais da biografia de Jesus, e que a maior parte dos académicos concorda que Jesus foi batizado por João Batista, debateu com as autoridades judaicas o tema de Deus, curou algumas pessoas, ensinou através de parábolas, angariou seguidores e foi crucificado por ordem de Pilatos.322

Retratos de Jesus

A investigação moderna sobre o Jesus histórico não produziu ainda um perfil unificado da figura histórica, devido em parte à diversidade de abordagens entre os académicos.323 Ben Witherington afirma que "existem agora tantos retratos do Jesus histórico como existem pintores académicos".324 Bart Ehrman e Andreas Köstenbergerargumentam que, dada a escassez de fontes históricas, é difícil para qualquer académico construir um perfil de Jesus para além dos elementos básicos da sua biografia que possa ser considerado válido em termos históricos.325 326 Os perfis de Jesus construídos muitas vezes diferem entre si e da imagem retratada nos evangelhos.327 328
Os perfis mais divulgados na investigação contemporânea podem ser agrupados segundo a forma principal como Jesus é retratado: se um profeta apocalíptico, um curandeiro carismático, um filósofo cínico, o verdadeiro Messias ou um profeta igualitário de mudanças sociais.329 330 Cada um destes tipos tem uma série de variantes, e alguns académicos rejeitam os elementos básicos de alguns perfis.331 No entanto, os atributos descritos em cada um dos perfis por vezes sobrepõem-se, e os investigadores que discordam de alguns atributos por vezes concordarm com outros.332

Língua, etnia e aparência

Doze representações de Jesus em diversas regiões. A representação da etnia de Jesus tem sido influenciada pelo contexto cultural.333 334
Jesus cresceu na Galileia, sendo nessa região que grande parte do seu ministério teve lugar.335 Entre as línguas faladas na Galileia e Judeia durante o primeiro século d.C. estão o aramaico, hebraico e grego, sendo o aramaico predominante.336 337 A maior parte dos académicos concorda que, no início do século, o aramaico era a língua-mãe de praticamente todas as mulheres na Galileia e Judeia.338 A maior parte dos académicos apoia a teoria de que Jesus falava aramaico, podendo também ter falado hebraico e grego.336 337 339 Dunn afirma que há um consenso substancial de que Jesus tenha pregado em aramaico.340
Os académicos modernos concordam que Jesus foi um judeu que viveu na Palestina durante o século I.341 No entanto, no contexto contemporâneo o termo "judeu" ("Ioudaios" no grego do Novo Testamento) pode referir-se tanto à religião judaica, como à etnia judaica, como a ambas.nota 6 343 Numa revisão do estado da arte do conhecimento contemporâneo, Levine escreve que toda a questão da etnia está "carregada de questões difíceis" e que "para além de reconhecer que «Jesus era judeu», raramente a investigação esclarece o que significa «ser judeu»".344
O Novo Testamento não fornece nenhuma descrição da aparência física de Jesus antes da sua morte, sendo na generalidade indiferente à questão da raça e nunca se referindo aos traços das pessoas que menciona.345 346 347 O Livro do Apocalipse descreve numa visão as feições de Jesus glorificado (Revelação 1:13-16), mas a visão refere-se a Jesus numa forma divina, já depois da sua morte e ressurreição.348 349Provavelmente, Jesus assemelhar-se-ia a qualquer judeu seu contemporâneo e, de acordo com alguns investigadores, seria provável que tivesse uma aparência musculada devido ao seu estilo de vida itinerante e ascético.350 James H. Charlesworth afirma que o rosto de Jesus era "provavelmente de tez escura e bronzeada" e que a sua estatura "pode ter sido de 1,65 a 1,70 m."351

Arqueologia

Apesar da inexistência de vestígios arqueológicos que sejam indubitavelmente associados a Jesus, a investigação no século XXI tem-se interessado cada vez mais por recorrer à arqueologia de modo a obter maior compreensão do contexto sócio-económico e político da vida de Jesus.352 353 354 Charlesworth afirma que hoje em dia poucos investigadores seriam capazes de ignorar algumas descobertas arqueológicas que fornecem dados sobre o quotidiano da Galileia e Judeia durante a época de Jesus.354 Jonathan Reed afirma que a principal contribuição da arqueologia para o estudo do Jesus histórico é a reconstrução do seu mundo social.355
David Gowler afirma que o estudo interdisciplinar com recurso a arqueologia, análise textual e contexto histórico pode esclarecer determinados aspetos sobre Jesus na História.356 Um exemplo são as investigações arqueológicas em Cafarnaum, uma cidade bastante referida no Novo Testamento, mas da qual se fornecem poucos detalhes.357 No entanto, as evidências arqueológicas recentes mostram que, ao contrário do que se acreditava, Cafarnaum era pequena e relativamente pobre, e nem sequer tinha um fórum ou ágora.356 358Esta descoberta arqueológica apoia a perspectiva académica de que Jesus advogava a partilha de riqueza entre os mais desfavorecidos naquela região da Galileia.356

Perspetivas religiosas

À exceção dos seus próprios discípulos e seguidores, os judeus contemporâneos de Jesus rejeitavam a crença de que ele pudesse ser o Messias, tal como é ainda rejeitada hoje em dia pela grande maioria dos judeus. Ao longo dos séculos, Jesus tem sido tema de amplo debate e inúmeras publicações por parte de teólogos, concílios ecuménicos e reformistas. As denominações cristãs e cismas são muitas vezes definidas ou caracterizadas em função da descrição que apresentam de Jesus. Ao mesmo tempo, Jesus tem um papel proeminente entre crentes de outras religiões, como os maniqueístas, gnósticos e muçulmanos.359 360 361

Perspetivas cristãs

Codex Vaticanus, considerado o melhor manuscrito grego do Novo Testamento.
Jesus é a figura central do cristianismo.362 Embora entre os cristãos haja diferentes pontos de vista sobre Jesus, é possível resumir as crenças partilhadas entre as principais denominações de acordo com os seus textos.363 364 365 Os pontos de vista cristãos sobre Jesus têm origem em várias fontes, entre as quais os evangelhos canónicos e cartas do Novo Testamento, como as epístolas paulinas e os documentos joaninos. Estes documentos resumem as crenças fundamentais sobre Jesus por parte dos cristãos, incluindo a sua divindade, humanidade e vida terrena, e que é Cristo e o Filho de Deus.366 Apesar de partilharem grande parte das crenças, nem todas as denominações cristãs concordam com todas as doutrinas, e existem várias diferenças entre si em termos de crença e ensinamentos que persistiram ao longo de séculos.367
O Novo Testamento afirma que a ressurreição de Jesus é o fundamento da fé cristã (Coríntios 15:12).368 Os cristãos acreditam que pela sua morte e ressurreição, os seres humanos se podem reconciliar com Deus, sendo-lhes oferecida salvação e a promessa de vida eterna.369 Recordando as palavras de João Batista a seguir ao batismo de Jesus, estas doutrinas por vezes denominam-no Cordeiro de Deus, por ter sido sacrificado para cumprir o seu papel enquanto servo de Deus.370 371 Jesus é assim visto como o novo e último Adão, cuja obediência contrasta com a desobediência de Adão.372 Os cristãos veem Jesus como um modelo de vida, sendo encorajados a imitar a sua vida focada em Deus.373
Muitos cristãos acreditam que Jesus foi ao mesmo tempo humano e o Filho de Deus. Embora a sua natureza seja alvo de debate teológico,nota 7 Os cristãos trinatáriosacreditam que Jesus é o Logos, a encarnação de Deus e Deus, o Filho, simultaneamente divino e humano. No entanto, a doutrina da Trindade não é universalmente aceiteentre os cristãos, sendo rejeitada por denominações como A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, as Testemunhas de Jeová ou a Ciência Cristã.374 375 Os cristãos veneram não apenas Jesus, mas também o seu nome. A devoção ao Santo Nome de Jesus remonta aos primeiros dias do cristianismo.376 377 Estas devoções e comemorações existem tanto no cristianismo ocidental como no oriental.378

Perspetivas judaicas

A corrente dominante do judaísmo rejeita a proposta de Jesus ser Deus, um mediador de Deus, ou parte de uma Trindade.379 Argumenta que Jesus não é o Messias por não ter nem realizado as profecias messiânicas do Tanach, nem apresentar as qualificações pessoais do Messias.380 De acordo com a tradição judaica, não houve qualquer profeta após Malaquias,381 que enunciou as profecias no século V a.C.382 Um grupo denominado judaísmo messiânico considera Jesus o Messias, embora seja disputado se este grupo corresponde ou não a uma seita do judaísmo.383
A crítica do judaísmo a Jesus é de longa data. O Novo Testamento afirma que Jesus foi criticado pelas autoridades judaicas do seu tempo. Os fariseus e escribas criticavam Jesus e os seus discípulos por não respeitarem a Lei de Moisés, por não lavarem as mãos antes das refeições (Marcos 7:1-23, Mateus 15:1-20) e por apanharem cereais durante o sabat (Marcos 2:23, Marcos 3:6).384 O Talmude, escrito e compilado entre os séculos III e V d.C.,385 inclui narrativas que alguns consideram ser relatos de Jesus. Numa dessas narrativas, Yeshu ha-nozri (“Jesus, o Cristão”) é executado por um tribunal judaico por promover idolatria e praticar magia.386 Há um amplo espectro de opiniões entre académicos no que respeita a estas narrações.387 A maioria dos historiadores contemporâneos consideram que este material não oferece qualquer informação do Jesus histórico.388 A ‘’Mishné Torá’’, uma obra de lei judaica escrita por Maimónides em finais do século XII, afirma que Jesus é uma “força de bloqueio” que “faz com que a maioria do mundo peque e sirva outro deus que não o verdadeiro”.389

Perspetiva islâmica

Maomé une em oração Jesus,Abraão e Moisés, entre outros
O islão considera Jesus (“Isa”) um mensageiro de Deus (Alá) e o Messias (‘’al-Masih’’) enviado para guiar as tribos de Israel (bani isra'il) através de novas escrituras, o Evangelho (‘’Injil’’).21 390 Os muçulmanos não reconhecem a autenticidade do Novo Testamento e acreditam que a mensagem original de Jesus foi perdida, sendo mais tarde reposta por Maomé.391 A crença em Jesus, e em todos os outros mensageiros de Deus, faz parte dos requisitos para ser um muçulmano.392 O Alcorão menciona o nome de Jesus vinte e cinco vezes, mais do que o próprio Maomé,393 394 e enfatiza que Jesus foi também um ser humano mortal que, tal como todos os outros profetas, foi escolhido de forma divina para divulgar a mensagem de Deus.395 No entanto, o islão considera que Jesus nem é a encarnação nem o filho de Deus. Os textos islâmicos sublinham a noção estrita de monoteísmo (‘’tawhid’’) e proíbem a associação de elementos a Deus, o que seria considerado idolatria.396 O Alcorão refere que o próprio Jesus nunca alegou ser divino,397 e profetiza que durante o julgamento final, Jesus negará ter alguma vez alegado tal (Alcorão 5:116).398 Tal como todos os profetas do islão, Jesus é considerado um muçulmano, acreditando-se que tenha pregado que os seus seguidores deveriam prosseguir um modo de vida correto, conforme ordenado por Deus.399 400
O Alcorão não menciona José, mas descreve a Anunciação a Maria (‘’Mariam’’), na qual um anjo a informa de que daria à luz Jesus ao mesmo tempo que permaneceria virgem. O nascimento virginal é descrito como milagre realizado pela vontade de Deus.401 402 403 O Alcorão (21:91 e 66:12) afirma que Deus soprou o Seu Espírito a Maria enquanto era ainda casta.401 402 403 No islão, Jesus é denominado “Espírito de Deus” por ter nascido através da ação do Espírito,401 embora essa crença não inclua a doutrina da Sua preexistência, como acontece no cristianismo.404 405
Os muçulmanos acreditam que Jesus foi o último profeta enviado por Deus para guiar os Israelitas.406 Para o auxiliar no seu ministério entre os Judeus, Deus teria dado permissão a Jesus para realizar milagres.397 407 Jesus é visto como precursor de Maomé e os muçulmanos acreditam que previu a sua chegada.395 408 Os muçulmanos negam que Jesus tenha sido crucificado, que tenha ressuscitado dos mortos ou que se tenha sacrificado pelos pecados da Humanidade.397 De acordo com a tradição muçulmana, Jesus não foi crucificado, mas foi erguido fisicamente por Deus para o Paraíso.397 408 A Comunidade Ahmadi acredita que Jesus foi um mortal que sobreviveu à sua própria crucificação e morreu de causas naturais aos 120 anos em Caxemira.409 410 A maior parte dos muçulmanos acredita que Jesus regressará à terra pouco depois do Juízo Finalpara derrotar o Anticristo (‘’dajjal’’).21 408

Outras perspetivas

No sincretismo das religiões africanas com o catolicismo, no Brasil, a imagem de Jesus foi associada no Candomblé ao orixá Oxalá, o maior de todos no panteão desta religião; o sincretismo também vale para a imagem de "Jesus Menino", equivalente à personificação de Oxalá quando jovem, em Oxaguian.411
A fé bahá'í considera Jesus uma manifestação de Deus, um conceito para profetas,412 e aceita Jesus enquanto Filho de Deus.413 Seus textos confirmam muitos, mas não todos, os aspetos do Jesus retratado nos evangelhos. Os crentes acreditam no nascimento virginal e na crucificação,414 415 mas interpretam a ressurreição e os milagres de Jesus como meramente simbólicos.413 415
Alguns hinduístas consideram que Jesus seja um avatar ou um ‘’sadhu’’ e enumeram várias semelhanças entre os ensinamentos de Jesus e os do hinduísmo.416 417Paramahansa Yogananda, um guru hinduísta, afirmou que Jesus foi a reencarnação de Eliseu e aluno de João Batista, reencarnação de Elias.418 Alguns budistas, entre os quais Tenzin Gyatso, XIV Dalai Lama, veem Jesus como um ’’bodisatva’’ que dedicou a vida ao bem-estar do próximo.419
Na perspetiva espírita, Jesus é o modelo humano de perfeição, segundo diz Allan Kardec em O Livro dos Espíritos.420 Para a doutrina espírita Jesus veio com a missão divina de cumprir a lei, que fora anteriormente revelada por Moisés (primeira e segunda revelações); ele, contudo, não disse tudo, e foi completado pela "terceira revelação": oEspiritismo.421 Kardec examina a natureza do Cristo nas Obras Póstumas, onde é taxativo: as discussões sobre a natureza corpórea do Cristo foi causa dos principais cismas da Igreja, e refuta todos os fundamentos para o dogma da divindade de Jesus, razão pela qual a crença na “trindade” não tem qualquer embasamento no Espiritismo.422
A Teosofia, a partir da qual derivam muitos textos new age,423 refere-se a Jesus como Mestre Jesus e acredita que Cristo, depois de várias reencarnações, ocupou o corpo de Jesus.424 A cientologia reconhece Jesus (a par de outras figuras religiosas como Zaratustra, Maomé e Buda) como parte da sua herança religiosa.425 426 No gnosticismo, hoje em dia uma religião praticamente extinta,427 Jesus foi enviado do reino divino para oferecer o conhecimento secreto essencial para a salvação (gnose). A maior parte dos gnósticos acreditavam que Jesus era um humano que foi possuído pelo espírito de Cristo no momento do batismo. O espírito abandonou o corpo de Jesus durante a crucificação, porém mais tarde ressuscitou o corpo do mundo dos mortos. No entanto, alguns gnósticos eram docéticos, acreditando que Jesus não teve qualquer corpo físico, apenas aparentando ter um.428 O maniqueísmo, uma seita gnóstica, aceitava Jesus enquanto profeta, a par de Siddhartha Gautama e Zaratustra.429 430
O ateísmo rejeita a divindade de Jesus, embora muitos ateus tenham sobre ele uma perspetiva positiva; Richard Dawkins, por exemplo, refere-se a Jesus como um excelente mestre de moral.431
Entre os críticos de Jesus estão Celso no século II e Porfírio, o qual escreveu uma obra em quinze volumes na qual criticava o cristianismo no seu todo.432 433 No século XIX,Nietzsche foi um dos mais críticos em relação a Jesus, cujos ensinamentos considerava serem antinaturais no que diz respeito a tópicos como a sexualidade.434 Já no século XX,Bertrand Russell escreveu em Why I Am Not a Christian que Jesus “não foi tão sábio como outras pessoas, e com certeza não o foi de forma tão superlativa”.435

Relíquias associadas a Jesus

O Sudário de Turim
A destruição total que se seguiu ao cerco de Jerusalém pelos romanos em 70 d.C. fez com que os artigos sobreviventes da Judeia do primeiro século se tornassem extremamente raros e com que praticamente não existam registos da história do judaísmo na última parte do século I e ao longo de todo o século II.436 437 nota 8 Margaret M. Mitchell afirma que embora Eusébio de Cesareia relate que os primeiros cristãos tenham deixado Jerusalém para se instalar em Pela pouco antes da sua destruição, deve-se aceitar que não tenham chegado até nós artigos cristãos em primeira mão sobreviventes do período inicial da Igreja de Jerusalém.439 No entanto, ao longo da história do cristianismo são várias as alegações de relíquias atribuídas a Jesus, às quais estão sempre associadas dúvidas e controvérsias. No século XVI o teólogo Erasmo de Roterdão escreveu de forma satírica acerca da proliferação de relíquias e dos edifícios que poderiam ser construídos com a quantidade de madeira que se alegava ter pertencido à cruz usada durante a Crucificação.440 De igual modo, enquanto os teólogos debatem se Jesus foi crucificado com três ou quatro pregos, por toda a Europa continuam a ser veneradas as relíquias de pelo menos trinta pregos da cruz.441 Algumas relíquias, como os alegados vestígios da coroa de espinhos, são visitados apenas por um reduzido número de peregrinos, enquanto outras, como o Sudário de Turim (o qual está associado com a devoção católica aprovada da Santa Face de Jesus) são veneradas por milhões de pessoas,442 entre as quais os papas João Paulo II e Bento XVI.443 444 Não existe consenso académico sobre a autenticidade de qualquer relíquia atribuída a Jesus.445 nota 9

Representação na arte

Fresco no batistério da igreja de Dura Europos, uma das primeiras representações de Jesus; c. 235
Apesar da falta de referências na Bíblia ou de registos históricos, a representação de Jesus ao longo dos séculos tem assumido diversas formas e características, muitas vezes influenciada pelo contexto cultural, político e teológico.448 334 346 Ao longo do século I, não existiu praticamente qualquer arte figurativa na Judeia romana, dada a adesão rigorosa àquilo que é indicado por um dos Dez Mandamentos: "Não farás para ti imagem de escultura, nem figura alguma" (Êxodo 20:4-6). No entanto, a partir do século III a interpretação deste mandamento passa a ser mais tolerante, o que proporciona o aparecimento das primeiras representações figurativas na sinagoga de Dura Europos e uma das primeiras representações de Jesus na igreja de Dura Europos, ambas datadas de um período anterior a 256.449 No entanto, é nas catacumbas romanas que se encontra o mais significativo espólio sobrevivente até aos nossos dias.450
A Oriente, a iconoclastia bizantina, que nos séculos VIII e IX proibiu o uso da figura humana em temas religiosos, foi um fator de resistência ao progresso artístico.451 A Transfiguração foi um dos principais temas na arte cristã oriental, e qualquer monge que se iniciasse na pintura de ícones deveria fazer prova da sua mestria com um ícone sobre esse tema.452 O Renascimento colocou em destaque uma série de artistas que se focaram em representações de Jesus, entre os quais Giotto e Fra Angelico.453 A Reforma Protestante trouxe consigo movimentos que defendiam a abolição da representação gráfica de figuras religiosas, embora a proibição total tenha sido rara e as objeções tenham diminuído após o século XVI. Embora evitem imagens de grande dimensão, hoje em dia poucos protestantes se opõem a representações de Jesus em livros.454 455 Por outro lado, o uso de representações de Jesus é defendido pelos líderes religiosos católicos e anglicanos456 457 458 e é um elemento-chave na tradição Ortodoxa oriental.459 460

Ver também

Notas

  1. Ir para cima John Meier afirma que o ano de nascimento de Jesus é cerca de 7/6 a.C.1 Por outro lado, Karl Rahner afirma que o consenso entre historiadores é c. 4 a.C.2 Sanders é favorável a 4 a.C. e aponta o consenso geral para essa data.3 Finegan aponta como provável c. 3/2 a.C., em função de tradições do cristianismo primitivo.4
  2. Ir para cima A maior parte dos historiadores estima que Jesus foi crucificado entre os anos 30 e33 d.C.6
  3. Ir para cima Os cristãos acreditam que Maria concebeu o filho através do milagre do Espírito Santo. Os muçulmanos acreditam que concebeu o filho de forma milagrosa por ordem de Deus. Segundo as perspectivas religiosas, José foi quem desempenhou o papel de pai no mundo físico.
  4. Ir para cima James D.G. Dunn afirma que os episódios do batismo e crucificação de Jesus são consensuais e universalmente aceites enquanto factos históricos pelos historiadores contemporâneos, sendo praticamente impossível duvidar ou negar a sua existência, pelo que muitas vezes são o próprio ponto de partida para a investigação científica do Jesus histórico.7 Bart D. Ehrman refere que a crucificação de Jesus sob a ordem de Pôncio Pilatos é o elemento biográfico de Jesus sobre o qual há maior certeza.8 John Dominic Crossan e Richard G. Watts afirmam que a crucificação de Jesus demonstra o mesmo nível de certeza como qualquer outro facto histórico consensual.9 Paul R. Eddy e Gregory A. Boyd referem que a confirmação da crucificação fora dos meios cristãos está seguramente determinada.10
  5. Ir para cima Numa revisão em 2011 do estado da arte da investigação contemporânea, Bart Ehrman escreveu: "Com certeza existiu, já que praticamente qualquer investigador clássico competente concorda, seja ou não cristão".11 Richard A. Burridge afirma: "Há aqueles que argumentam que Jesus é produto da imaginação da Igreja e que nunca houve qualquer Jesus. Devo dizer que não conheço nenhum académico de renome que ainda afirme isso".12 Robert M. Price não acredita que Jesus tenha existido, mas reconhece que o seu ponto de vista é contrário à maioria dos académicos.13 James D.G. Dunn chama às teorias da inexistência de Jesus "uma tese completamente morta".14 Michael Grant (um classicista) escreveu em 1977: "em anos recentes, nenhum académico sério se aventurou a postular a não historicidade de Jesus, e os poucos que o fazem não tiveram qualquer capacidade de contrariar as evidências no sentido contrário, muito mais abundantes e fortes.15 Robert E. Van Voorst declara que os académicos bíblicos e historiadores clássicos encaram as teorias da inexistência de Jesus como completamente refutadas16
  6. Ir para cima O Novo Testamento afirma em três passagens diferentes que Jesus era judeu ("Ioudaios" no grego do Novo Testamento), embora o próprio Jesus nunca se refira a si como tal. Em Mateus 2:, os Reis Magos referem-se a Jesus como "Rei dos Judeus" (basileus ton ioudaion). É também referido como judeu em João 4: pela samaritana no poço, no momento em que abandona a Judeia, e pelos romanos durante o episódio da Paixão, em todos os quatro evangelhos, os quais usam a frase "Rei dos Judeus".342
  7. Ir para cima Posteriormente ao período apostólico, decorreram na